Mundo Moderno

quarta-feira, 8 de junho de 2011

LEBLÔNIA

Por Mauro Oliveira Almeida

Leblônia é uma cidade jovem que vive num ar inquietante de “quero ser grande”. Sentimento esse muito bem aproveitado pela classe política (que se diz moderna, mas é tão roceira na essência como boa parte da população) que espalha todo aquele verde, ainda que de grama mal plantada e palmeiras para todos os lados, que até virou símbolo para um novo slogan: “Leblônia é o melhor lugar do mundo”. É tanta palmeira que parece mais uma cidade do litoral...
Cidade das velhas formas, hoje preenchidas por novas funções: algumas fazendas foram transformadas em hotéis, outras encontram-se em ruínas, retalhadas pela herança. Nos casarões vemos “cristalizada” a sucessão de tempos; seu conteúdo, no entanto, é sempre atual. Mas toda a modernidade aparente e os ufanismos de seus políticos vão literalmente por água abaixo quando ocorre a habitual precipitação vespertina. Precipitação é força de expressão. A chuva é quase sempre torrencial, fazendo com que a cidade se dissolva como se fosse de areia, deixando uma profusão de buracos de enxurrada e paralelepípedos arrancados, que são a alegria dos ferreiros da cidade, dada a quantidade de rodas de carroça quebradas e ferraduras arrancadas. Nas calçadas estreitíssimas, uma guerra de guarda-chuvas negros e cabelos desarrumados são as arcas deixadas entre os transeuntes.
Porém Leblônia não pode renegar a origem rural e a mentalidade idem dos habitantes, as pessoas ainda cultivam hábitos antigos, levam uma vida pacata (são cidadãos pacatos que aceitam esse cotidiano simples e sem novidades) e algumas renunciam à modernidade, como um influente político disse: “Leblônia não precisa crescer mais, está bom do jeito que está”. Todo aquele frenético movimento diário se converte numa cidade fantasma nos fins de semana. Pode-se puxar uma rede nos postos da rua e dormir sem ser incomodado.
Contudo, não se pode culpar a cidade pelo fato de o progresso ter chegado apenas como um esboço e terem perdido a possibilidade de ser realmente uma “cidade grande”. Leblônia escolheu a pacatez e o silêncio. Corrijo, Leblônia nasceu pacata e silenciosa. Mas sua grandeza está na perseverança de seus habitantes que, como a maioria dos interioranos, são teimosos... e não desistem nunca!!


Mauro Oliveira Almeida é graduado em História e ardoroso crítico da modernidade.

Você conhece Leblônia??

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